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Minha Aventura
Schwarzer Panther, Mergulho na Escuridão
Uma Arma Mortal

No dia 20 Abr 44, o U 1105, submarino alemão Tipo VII C/41, era lançado ao mar no estaleiro Nordseewerke, Emden. Comissionado na Kriegsmarine em 03 Jun 44, o U 1105 era um dos dez U Boats fabricados durante a II Guerra Mundial, com casco recoberto por uma camada de borracha sintética destinada a confundir os meios de detecção subaquáticas (Asdic/Sonar)(1) dos destróiers aliados, uma idéia de tecnologia Stealth já em 1944.
Este processo ultra-secreto de recobrimento do casco tinha o nome código de Alberich.
Começava então a sua breve mas dramática carreira na Batalha do Atlântico. A maré da guerra havia mudado e agora os U Boats eram caçados quase à extinção nos mares e oceanos; de cada três submarinos que partiam em patrulha naquele final de 1944, dois nunca mais voltavam. Entretanto nunca faltavam voluntários para compor esta elite. Arma poderosa que por muito pouco não havia derrotado a Inglaterra e modificado o final da II Guerra Mundial.
Nunca na história de todas as guerras uma força havia sofrido tal percentual de baixas (70 %) e permanecido lutando e ameaçando o inimigo até o fim, fazendo com que este retivesse imensa quantidade de homens, navios e aviões até maio de 1945.
Daqueles 1.167 submarinos construídos pela Alemanha na II Guerra Mundial, 757 foram afundados em combate, bombardeados em seus portos, capturados ou simplesmente se perderam em acidentes, contudo afundaram 2.603 navios mercantes e 175 navios de guerra aliados, de lanchas-patrulha a porta-aviões e encouraçados. Um total superior a 13.500.000 toneladas, realmente uma cifra espantosa!
Logo após ser comissionado, o U 1105 partiu para o Mar Báltico onde permaneceu alguns meses em testes e treinamento de sua jovem tripulação. Seu comandante era o Oberleutenant Zur See Hans-Joachim Schwarz, tinha somente 23 anos mas já era um veterano na guerra naval, formado na Escola de Submarinos.
Ao findar este período no Báltico, o U 1105 aparelhou em Wilhellmshaven, recebendo reparos, novos equipamentos e uma cobertura de borracha sintética por todo o seu casco. Devido a cor escura da borracha logo os marinheiros o chamaram de Pantera Negra e seu símbolo, uma pantera deitada sobre um globo terrestre, foi pintado na torre.
O U 1105 possuía uma velocidade de 17 nós na superfície e 7,6 nós submerso, proporcionada por dois motores Diesel e dois elétricos. Deslocava 796 ton na superfície e 1.070 ton submerso e seu comprimento era de 67,23 m. Armado com 12 torpedos, 1 canhão 37 mm e 4 canhões 20 mm, possuia 4 tubos lança-torpedos na proa e um na popa.

O combate

Em março de 1945 o Pantera Negra encostou no cais em Kiel onde carregou sua dotação de torpedos, munição para os seus canhões, combustível e comida para 90 dias. No início de abril de 1945 partiu para águas norueguesas onde ultimou testes com o Schnorkel (2) e treinamento de combate com sua tripulação, rumando então para o seu campo de caça, a costa oeste da Irlanda, onde chegou algum tempo depois. Para tanto escapou das patrulhas aéreas do Comando Costeiro e de destróiers ingleses, bem como evitou os campos de minas que barravam sua rota. Realmente um predador de grande habilidade.
Na manhã de 27 Abr 45, o U 1105 avistou pelo seu periscópio uma patrulha de 3 navios de guerra ingleses. Manobrando silenciosamente até uma posição favorável e na distância de 2.000 m, o Pantera atacou, disparando dois T5 Zaunkönig, os temíveis torpedos acústicos que seguem até o seu alvo atraídos pelo som dos hélices, mergulhando em seguida para 100 m. Cerca de 50 seg depois, o primeiro torpedo atingiu a popa da fragata HMS Redmill de 1.300 ton sendo seguido imediatamente pelo segundo, destruindo o navio e matando 32 homens da sua tripulação. Mas claro, tinha a volta e agora o U Boat lutava pela sua vida. O Pantera mergulhou até o fundo do mar, direto para a escuridão, pousando imóvel na areia a 172 m enquanto os destróiers saturavam as profundezas com 299 cargas de profundidade durante 31 h consecutivas. Parece que a cobertura de borracha realmente iludiu o Asdic dos navios pois o Pantera Negra escapou ileso retornando a sua posição de caça algum tempo depois.
No dia 04 Mai 45, o Tenente Schwarz recebeu por rádio a mensagem que a guerra havia terminado e que deveria navegar na superfície para o porto aliado mais próxima. No dia 11 Mai 45, o U 1105 rendeu-se aos ingleses em uma base no norte da Escócia, encerrado a primeira parte desta história.

Em águas americanas

No início de 1946, o Pantera Negra foi entregue aos americanos tornando-se objeto de inúmeros testes e avaliações por parte da US Navy. Em 1948, novos testes afundaram o U Boat na Baia de Chesapeake onde permaneceu submerso até o ano seguinte quando foi posto a flutuar e rebocado até a região de Piney Point, no Rio Potomac, Maryland.
No dia 19 Set 49, um outro teste com um novo tipo de carga de profundidade que detonou 10 m abaixo do seu casco, enviou o U 1105 em 20 segundos para o fundo lamacento do rio, a cerca de 28 m, ficando esquecido nos próximos 36 anos.
Será somente em 1985 que um grupo de mergulhadores liderados por Uwe Lovas irá descobrir o local de seu naufrágio

Visitando o Pantera Negra

Foi na primeira semana do outono americano de 2007, 22 anos depois, que na companhia de David Howe e Raymond Hayes, notáveis mergulhadores e caçadores de naufrágios, ligados ao IMH (Institute of Maritime History), que mergulhei no U 1105. Eu ainda estava muito decepcionado pois a passagem do furacão Gabrielle na costa da Carolina do Norte havia abortado a minha visita ao U 85 e U 701, dez dias antes.
Partimos de uma pequena e encantadora marina em Tall Timbers, Maryland e depois de 30 minutos navegando no Rio Potomac chegamos até a bóia que marca o local do naufrágio do U Boat. O rio, apesar de muito largo se apresentava bastante calmo e o dia, ensolarado.
Para o meu espanto, David fez o primeiro mergulho sozinho, de calças jeans e camisa polo! Um pouco depois, quando da sua volta, mergulhei em companhia de Ray, descendo pela amarra da bóia. A água não estava fria e havia alguma corrente. Quando atingimos o fundo, inesperadamente, uma lama muito escura e fina levantou, deixando a visibilidade em zero. Nunca tinha mergulhado assim, nestas condições e foi necessário a ajuda do meu dupla para localizar o cabo que nos guiaria da poita da bóia para o U Boat. Exploramos então a torre onde era possível ver os suportes dos periscópios de ataque e de observação (sky periscope), bem como alguns detalhes da ponte. Para tanto foi muito importante ter na memória cada um destes detalhes, conseqüência das centenas de horas montando meus modelos de U Boats.
Era um mergulho muito difícil para o meu nível de habilidade e com a falha da minha lanterna não podia mais consultar os instrumentos. Em alguns minutos comecei a sentir a respiração pesada e sinalizei ao Ray para emergirmos de imediato. Foi uma subida angustiante, que parecia lenta demais. Mesmo com a diminuição da pressão continuava a sentir a respiração cada vez mais difícil. Quando faltavam 10 m para a superfície meu ar simplesmente acabou. Não sei até agora como mas permaneci calmo e sabendo exatamente o que tinha que fazer. Busquei a válvula reguladora reserva do meu dupla com a mão direita enquanto a esquerda já estava pronta para alijar o cinto de lastro. Coloquei o segundo estágio na boca e senti que estava cheio de lama. Dos males o menor, um toque no botão do purga e parte da lama foi para fora, a outra metade eu... engoli. Contudo voltei a respirar novamente, uma sensação absolutamente maravilhosa. Alcançamos a superfície a cerca de 50 m do Roper, nosso barco de apoio que veio nos resgatar sem maiores problemas. Tive que inflar o colete equilibrador com a boca pois meu cilindro estava completamente vazio, contudo mantive o cinto de lastro.
Após um longo intervalo de superfície, realizei meu segundo mergulho, desta vez em companhia do David. Uma descida bem mais fácil pois seguimos o cabo de uma bóia menor que assinalava exatamente a torre do U Boat. A visibilidade ali não era tão ruim e foi possível ver a escotilha na ponte, os suportes dos canhões 20 mm (os canhões foram removidos) bem como as caixas de munições embutidas no deck. Da borracha restavam pedaços que se desmanchavam nas mãos.
Realmente um mergulho emocionante para quem esta acostumado com as águas transparentes da Reserva do Arvoredo, em Florianópolis. Que coisa!

O local

O Pantera Negra se encontra localizado aproximadamente a uma milha ao oeste de Piney Point, Rio Potomac, Maryland, nas coordenadas 38º 08´ 10” N e 76º 33´ 10” W. Uma bóia azul e branca marca sua posição de abril a dezembro, sendo retirada nos outros meses. Inscrições na bóia alertam para a baixa visibilidade, correntes fortes e outros perigos. O casco e a torre estão bem preservados e ocasionalmente correntes marinhas removem a lama deixando exposta boa parte da cobertura de madeira do deck e a fenda no lado boreste do casco, resultado da explosão de 1949. É proibido a retirada de qualquer peça do naufrágio que pertence a US Navy e esta guardado pelo Institute of Maritime History.

Para maiores informações consulte:
www.maritimehistory.org
Ou escreva para:
david.howe@MaritimeHistory.org

(1) Schnorkel: Tubo que permite ao submarino aspirar ar da superfície, mesmo submerso, para a tripulação e motores Diesel bem como expelir gases.

(2) Asdic (Anti-Submarine Detection Investigation Commitee) e Sonar (Sound Navigation Ranging): Denominação inglesa e americana, respectivamente, do mesmo dispositivo de transmissão-recepção., instalado sob o casco do navio, e que através de sinais acústicos subaquáticos podia localizar um submarino.

“…colocar a mão em um deles significa poder tocar em um pedaço da história, ver-se frente a frente a um instrumento de morte, a uma arma que teve a capacidade de causar danos que ultrapassam meros resultados na ação em si. É o medo que acontece quando o inimigo começa a temer aquele engenho capaz de lhe atingir a qualquer momento e sem ser visto. Restos de uma avançada tecnologia operada por homens constituídos de imensa coragem e de moral elevadíssimo, integrantes de uma irmandade das profundezas. Ajoelhar-se na areia branca do fundo do mar, escutando somente nossa respiração, em silencioso respeito e observar aquele elegante casco, mesmo desmantelado por uma morte violenta, é ser tomado por grande emoção. E eu senti isto.”

Nestor Antunes de Magalhães


Mergulhador CMAS 2 Estrelas, com os seguintes cursos de especialização: Mergulho em Naufrágio, Salvatagem, Orientação Subaquática e Noturno. Oficial da reserva remunerada do Exército brasileiro, exercendo atualmente atividade profissional no Museu do Comando Militar do Sul, Porto Alegre. Pesquisador de história militar, tem particular atenção dedicada a II Guerra Mundial e dentro deste período, a Batalha do Atlântico e a ação dos submarinos alemães.
Mergulha em naufrágios por toda a costa brasileira desde 1992 bem como em alguns lugares no exterior. Vale a pena destacar mergulhos realizados no México, Estados Unidos, Espanha e Portugal, nos naufrágios do U 1277, U 352 e U 1105 bem como a visita ao U 505. No Brasil integrou uma expedição de mergulho que explorou o Parcel do Manoel Luís,1997, Maranhão, mergulhou também em Pernambuco, Fernando de Noronha, Sergipe, Alagoas, Bahia, Santa Catarina e outros locais.
Interessado em história militar, visitou os principais museus navais e militares da Europa e Estados Unidos.
Atualmente planeja o mergulho no U 85 e no U 701, U Boats afundados em combate na costa leste americana em 1942, com previsão para Agosto de 2008.




 
 
 
 
 

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